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Quando a arquitetura dispensa o ar-condicionado

Vêm chegando o verão e as temperaturas tórridas. E junto com eles chegam as contas de luz de valores explosivos e o aumento das emissões de carbono, por conta do uso do ar-condicionado. Não é de hoje que arquitetos buscam estratégias para amenizar o calor, projetando construções que favorecem o frescor no interior e até dispensam o uso de ar-condicionado. Ultimamente, esses recursos vêm sendo aplicados na chamada arquitetura sustentável.

Um exemplo recente de arquitetura sustentável é o prédio da Academia de Ciências da Califórnia, em San Francisco. A começar pelo telhado verde ondulado, onde redomas gramadas desviam o ar em circulação para dentro do prédio. A vegetação ali também ajuda a reduzir a temperatura dos ambientes que estão abaixo. E portas de vidro são mantidas entreabertas por alavancas mecânicas.

O arquiteto Alisdair McGregor, que participou do projeto de meio bilhão de dólares, afirmou à BBC que o ponto de partida da equipe responsável foi justamente a ventilação natural. “Começamos pensando em até onde poderíamos ir para projetar o prédio, supondo que não teríamos ar-condicionado”, disse ele.

Uma estratégia mais simples de resfriamento é aproveitar a mudança de temperatura no ar quando a água evapora. Trata-se do resfriamento evaporativo, que já era usado pelos antigos egípcios e romanos. É mais ou menos o que acontece na pele quando você respira. E é também o que acontece na moringa, que conserva a água fresca mesmo no calor enquanto uma pequena quantidade desta evapora pela superfície porosa do barro.

 

TRELIÇAS ÁRABES, LAGUINHOS E BRISE-SOLEIL

Na arquitetura árabe, utiliza-se a mashrabiya, uma treliça de madeira decorativa encontrada com frequência no interior dos prédios. Essas treliças fazem sombra e ainda servem para sustentar potes de barro cheios de água. Assim, o ambiente refresca porque o ar passa pela mashrabiya e pela superfície dos potes.

Outro recurso refrescante é a presença de um laguinho, uma fonte ou canais, capazes de proporcionar um resfriamento evaporativo em espaços internos. Efeito semelhante tem a solução simples de manter um pote de barro com água próximo de uma janela ou de onde haja uma corrente de ar.

No norte da Índia, onde os termômetros costumam ultrapassar os quarenta graus, arquitetos constataram que a temperatura alguns metros abaixo do solo cai a 25 graus. “A solução é cavar”, disse à BBC Manit Rastogi, autor do  projeto da Pearl Academy of Fashion, na cidade de Jaipur. Num dos pátios internos desse prédio, foi cavado um poço que recolhe a água da chuva e também aquela utilizada nas instalações. Esse reservatório absorve o calor e mantém o ar fresco.

Nos anos 1930, o arquiteto francês Le Corbusier (1887-1965) foi contratado para elaborar o projeto do edifício La Cité de Refuge, em Paris. Ele criou uma dupla fachada de vidro. Haveria um muro para abrandar o calor no interior. Só que, por economia, o tal muro não foi construído e o edifício virou uma estufa. Para resolver o problema, Corbusier inventou o brise-soleil, uma estrutura usada na fachada para impedir a incidência de raios solares no interior de um edifício, evitando o calor excessivo sem prejudicar a ventilação e a iluminação.

A técnica de Corbusier foi utilizada no Brasil pelos arquitetos Lúcio Costa (1902-1998), Affonso Reidy (1909-1964) e Oscar Niemeyer (1907-2012) no projeto do Palácio Gustavo Capanema, antiga sede do Ministério da Educação e Saúde, no Centro do Rio de Janeiro. O edifício se tornou um marco da moderna arquitetura brasileira.

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