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Reflexões éticas sobre o aprimoramento humano

Tecnologias de aprimoramento humano levantam questões importantes sobre o que é bom ou ruim para nosso bem-estar.  Hoje em dia essas tecnologias são voltadas para a atualização ou restauração de habilidades físicas e psicológicas. No entanto, a tendência é que surjam tecnologias com objetivo de maximizar o desempenho das funções biológicas.

Geneticistas, filósofos, engenheiros e neurocientistas de todo o mundo têm examinado as implicações éticas decorrentes desses experimentos. O grupo aponta o conflito entre o bem-estar individual e coletivo, juntamente com o importante papel que os governos têm de desempenhar. A análise a seguir é uma adaptação de um estudo disponibilizado pela Universidade de Genebra, que traz reflexões importantes sobre o impacto futuro dessas tecnologias de aprimoramento.

As novas tecnologias de aprimoramento humano de hoje são usadas principalmente de forma restaurativa após um acidente, doença ou deficiência de nascimento. Um estudo recente dos EUA liderado por Debra Whitman (publicado na Scientific American) mostrou que essas tecnologias restaurativas recebem aprovação quase universal do público em geral: 95% dos entrevistados apóiam aplicações de restauração física e 88% de aplicações restaurativas cognitivas.

Este percentual cai para 35%, no entanto, quando o sujeito recorre a intervenções destinadas a melhorar sua capacidade física ou cognitiva com o único objetivo de melhorar o desempenho. Por quê? “Porque você está tocando na própria essência da humanidade, e isso levanta uma avalanche de questões éticas”, diz Daphné Bavelier, professor da Seção de Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPSE) da UNIGE.

Uma equipe internacional de pesquisadores, mandatada pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), examinou os fatores que precisam ser levados em consideração para garantir uma sociedade justa e o bem-estar coletivo ao desenvolver e distribuir essas novas tecnologias.

Os impactos do aprimoramento na análise do bem-estar

O bem-estar social vai além dos índices econômicos. Uma vez que as necessidades básicas da população tenham sido atendidas, outros fatores entram em jogo.

A teoria da autodeterminação divide o bem-estar em três partes:

  • autonomia (a capacidade de tomar as próprias decisões);
  • competência (capacidade de agir e contribuir para a sociedade);
  • e relações sociais (redes de apoio).

Os cientistas investigam o impacto individual e coletivo das tecnologias de aumento humano baseadas nesses três componentes. Seu objetivo é alertar os governos sobre os possíveis abusos envolvidos no uso irrestrito desses avanços científicos.

Autonomia ou empoderamento é a capacidade humana de tomar decisões informadas sobre como conduzir a vida sem ser coagido por outro. Um indivíduo poderia ou não escolher se quer aprimorar suas funções biológicas. Isso é contestável, porém, quando pressões sociais surgirem em prol desse melhoramento.

O mesmo se aplica à competência. O que acontecerá se algumas pessoas tiverem recursos para comprar novas habilidades, enquanto outras não? Como as empresas conseguirão se manter competitivas se essas vantagens se tornarem uma ferramenta de barganha?

Segundo os pesquisadores, o doping no esporte é um excelente exemplo de como o aprimoramento individual afeta o coletivo. Mas, quando um atleta usa uma substância que melhora seus resultados, ele estimula os outros a imitá-lo em prol do desempenho. Portanto, para serem competitivos, os indivíduos não têm mais liberdade para dizer não ao aprimoramento de desempenho. Isso requer novas abordagens.

O aumento constante do uso de drogas com o objetivo de facilitar as relações sociais ressalta a importância desse aspecto. O uso de novas tecnologias levanta questões éticas genuínas no nível coletivo.Influenciar o comportamento de outra pessoa, eliminando o sentimento de solidão frequentemente ligado à depressão, por exemplo, já é uma possibilidade real.

Mas remover um problema comportamental não resolve tudo, pois o que funciona para um indivíduo não tem o mesmo efeito em um grupo como um todo.

Após suas investigações abrangentes, a equipe internacional reconheceu a importância de refletir sobre as consequências na sociedade de cada mudança individual. Os especialistas também relataram a necessidade urgente de introduzir regulamentos unificados entre os diferentes governos antes que o uso dessas novas tecnologias se degenere.

Essa preocupação é ilustrada pelo recente caso de gêmeos chineses que foram geneticamente modificados para resistir ao vírus do HIV, que eles poderiam nunca ter contraído. As tecnologias de melhoria humana exigem que os formuladores de políticas encontrem um certo equilíbrio, pois efeitos coletivos são importantes. É irresponsável deixar esse tipo de medida à mercê do mercado e das pressões sociais. Regulamentações precisam ser criadas antes que situação saia do controle, impactando na diversidade genética humana e nas estruturas sociais como um todo.

Fonte: https://www.unige.ch/communication/communiques/en/2019/human-enhancement-is-it-good-for-society/

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