Pesquisadores americanos descobriram uma forma de transformar resíduos de comida em parafinas que podem ser usadas como um eficaz combustível para aviões a jato. Além da vantagem do reaproveitamento de material, o combustível reduz de maneira impressionante a emissão de carbono na atmosfera.
“Há combustíveis de aviação animadores que dependem da queima de lixo e resíduos secos, mas esse funciona para resíduos com alto teor de água, que normalmente descartamos em aterros”, disse à BBC Derek Vardon, engenheiro do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos e principal autor do estudo. A pesquisa foi divulgada na Proceedings of the National Academy of Sciences, publicação da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Segundo os pesquisadores, o novo combustível diminui em nada menos que 165% as emissões de gases de efeito estufa, se consideradas a redução das emissões em relação a combustíveis fósseis e ainda a redução da quantidade de restos de comida descartados em aterros sanitários.
A indústria de aviação é considerada uma das maiores vilãs do aquecimento global. E vem enfrentando dificuldades para conciliar a maior procura por voos com a redução da emissão de carbono com a qual está comprometida – a meta da Associação Internacional de Transportes Aéreos é uma redução de 50% até 2050. Como a possibilidade de usar baterias é remota, o foco maior tem sido o uso de combustíveis alternativos.
JAPÃO INVESTE EM COMBUSTÍVEL ALTERNATIVO
Atualmente, a maior parte dos resíduos de alimentos usados para produção de energia é transformada em gás metano. No caso dessa nova descoberta, os cientistas conseguem interromper o processo de transformação de resíduos em gás metano e produzir ácido graxos voláteis. Com isso, criam dois tipos de parafina que, combinados, podem ser usados na proporção de 70% misturados a um combustível de avião comum, sem deixar de atender às exigências da indústria de aviação.
O rastro de fumaça branca dos aviões, resultado das partículas que emitem, denuncia a emissão de carbono. Com o novo combustível, essa fuligem seria reduzida em 34%. Os cientistas planejam testá-lo em 2023 em aeronaves da Southwest Airlines, uma das maiores companhias aéreas americanas.
“Ser capaz de mostrar que você pode pegar esses ácidos graxos voláteis e que há uma maneira simples e elegante de transformá-los em combustível de aviação, é aí que vejo uma aplicabilidade mais ampla disso. E as pessoas podem continuar a desenvolvê-lo e refiná-lo”, disse Vardon à BBC.
Em novembro do ano passado, a Japan Airlines (JAL) anunciou que a partir do ano que vem adotará em sua frota um biocombustível feito de lixo doméstico. A intenção é usar um combustível reciclado produzido pela startup americana Fulcrum BioEnergy. Segundo o jornal Japan Today, a JAL investe, desde 2018, o equivalente a R$ 47 milhões na empresa que desenvolve o projeto. A ideia é usar o combustível alternativo em voos entre EUA e Japão.