Tomando como parâmetro a redução temporária da emissão de gases do efeito estufa decorrente da menor atividade econômica registrada durante o período da pandemia, um estudo mostrou que políticas adequadas para a recuperação econômica no mundo poderiam retardar o aquecimento global e reduzi-lo à metade até 2050. Medidas climáticas apropriadas inclusive preparariam melhor o planeta para possíveis novas pandemias.

O estudo foi conduzido pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, e publicado na revista científica Nature Climate Change. Os pesquisadores compararam dois cenários. Num deles, a recuperação econômica manteria os atuais níveis de investimentos em combustíveis fósseis. No outro, seriam priorizadas a preservação de áreas verdes e a redução da emissão de carbono.

No primeiro cenário, o aquecimento médio do planeta seria superior a 1,5 graus em 2050, comparado à temperatura no mundo anterior à revolução industrial. No segundo, seria possível evitar 0,3 graus de aquecimento no mesmo período de trinta anos. Como o mundo já está 1 grau mais quente, haveria potencial para reduzir à metade o nível do aquecimento global.

“Isso pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso em evitar mudanças climáticas perigosas”, disse o cientista Piers Forster, que conduziu a pesquisa.

O grupo estima que a restauração de 12 milhões de hectares de florestas até 2030 poderia gerar novos 250 mil postos de trabalho.

EFEITOS BENÉFICOS SERIAM IMEDIATOS

Entre as medidas para frear a mudança climática, o estudo aponta o incentivo a ciclovias e a veículos e transportes públicos de baixa emissão de carbono. Segundo Foster, os efeitos disso seriam imediatos. “A melhor qualidade do ar beneficiará a saúde e o clima começará a esfriar imediatamente”, disse ele.

Para os especialistas, os atuais impactos negativos da pandemia representam apenas uma primeira onda, que poderá ser seguida de uma recessão econômica e de uma terceira onda considerada a mãe de todas as crises: a mudança climática.

Outras pesquisas têm indicado impactos positivos de medidas de preservação ambiental. Num trabalho conjunto, o instituto WRI Brasil e a aliança global New Climate Economy estimaram que a aplicação de princípios de retomada verde em ações de infraestrutura, inovação industrial e agronegócio reduziria as emissões dos gases de efeito estufa em até 42% até 2025, numa comparação com índices de emissão registrados em 2005. A estratégia também poderia gerar 2 milhões de empregos e acrescentar R$ 2,8 trilhões ao PIB brasileiro.

Para alcançar tais resultados, seria preciso introduzir veículos elétricos ou híbridos e estabelecer maior eficiência no setor de construção, maior uso de energias renováveis e de materiais de baixo carbono, bem como uma agropecuária de maior produtividade. Tudo isso teria que estar associado a uma restauração de florestas e a uma redução dos desmatamentos ilegais.