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Tecnologia traz voz de cantor morto em novas canções

Um programa de inteligência artificial (IA) realizou a proeza de reproduzir a voz de um cantor falecido interpretando à perfeição músicas que ele nunca cantara. A novidade está tendo forte repercussão na Coreia do Sul, onde Kim Kwang-seok morreu em 1996, aos 32 anos, deixando uma multidão de fãs desconsolados. Agora, eles aguardam ansiosos a exibição de um programa da TV SBS que promete mostrar um novo repertório, incluindo um dueto de um cantor vivo com a voz gerada pela tecnologia.

Batizada de Singing Voice Synthesis, a tecnologia foi desenvolvida pela empresa sul-coreana Supertone, cujo CEO, Choi Hee-do, aposta na redução de custos de gravação. Para ele, artistas também poderiam participar de projetos sem estarem presentes.

“O BTS [grupo popular na Coreia do Sul] está muito ocupado hoje em dia, e seria lamentável se não pudesse participar de um projeto por falta de tempo”, disse Choi Hee-do à CNN. “Portanto, se usasse nossa tecnologia ao fazer jogos, audiolivros ou dublar uma animação, por exemplo, não teria necessariamente que gravar pessoalmente.”

O empresário explicou que o sistema de IA aprendeu cem canções de vinte cantores antes de aprender vinte músicas de Kim Kwang-seok e seu jeito de falar. E então praticou cantando mais setecentas músicas. A estratégia para treinar a voz foi fazê-la capturar traços de emoção humana, tanto no canto quanto na fala. O resultado seria uma cópia tão fiel que inclui até a pronúncia característica do cantor.

 

TECNOLOGIA LEVANTA QUESTÕES ÉTICAS

O desempenho do programa de IA foi aprovado por fãs como Park Hye-hyun, que tinha 2 anos quando o cantor morreu. “Um dos meus desejos era ouvir mais músicas na voz de Kim. Cheguei a chorar”, disse ela. “A voz recuperada soa muito como ele, como se Kim tivesse gravado ao vivo.”

Divulgado no YouTube, um teaser com a interpretação inédita de “I Miss You” já teve mais de 145 mil visualizações. Já o making off atraiu 750 mil acessos.

Embora tenha autorização da família e aprovação entusiasmada de muitos admiradores do cantor, a experiência tecnológica suscitou questões éticas. Quando a IA reproduz a voz de um cantor falecido que tem direitos autorais sobre suas músicas, os direitos ficam com a fonte da voz ou com o dono da tecnologia?

Advogado especialista em proteção de dados, Ko Hwan-kyoung questionou: “Vamos reconhecer uma IA como uma entidade com ‘personalidade legal’, como os humanos, e dar a ela os direitos autorais?”. Ele alertou para a necessidade de uma regulamentação que garanta a segurança humana sem prejuízo ao desenvolvimento tecnológico.

“Minha maior preocupação é que a IA possa agir como um ser humano”, declarou Im Uk-jin, morador de Seul, à BBC. “Há conjuntos de habilidades e hábitos que só seres humanos podem ter. Se a IA puder imitar tudo isso, no futuro o mundo será dominado por ela, não por seres humanos. Estou preocupado.”

Por hora, a Supertone decidiu não fazer um lançamento comercial das canções inéditas que serão exibidas no programa de TV, ainda sem data de exibição divulgada.

 

MAIS DE CINCO MILHÕES DE DISCOS VENDIDOS

A fama de Kwang-seok é perpetuada numa estátua de bronze em tamanho natural do cantor com seu violão, instalada numa rua de sua cidade natal, Daegu. Astro de folk rock, ele estreou em 1987 na banda Noraereul Channeun Saramdeul. Começou a ficar mais famoso no ano seguinte, ao lançar seu primeiro álbum solo.

O cantor fez sucesso com letras que, segundo críticos, retratavam a tristeza e frustração de uma época em que a sociedade vivia o início da democracia, seguida de uma rápida industrialização. Kwang-seok vendeu mais de cinco milhões de discos, um feito para o mercado musical sul-coreano.

O artista foi encontrado morto em sua casa, com uma corda no pescoço. A família sustentou que ele teria sido assassinado, mas autoridades disseram ter sido suicídio.

 

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