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Uma compreensão budista da morte

Para a monja australiana Robina Courtin, a compreensão da impermanência – um dos primeiros ensinamentos de Buda – é o ponto de partida para a compreensão da morte. “Impermanência e morte” foi o tema de sua recente palestra que abriu a I Semana de Transformação R.evolution Club. Suas palavras dissociam a chamada hora fatal do sentido de “fim de tudo”. E abrem horizontes.

Robina enumerou três aspectos relevantes para entender o sentido da morte no budismo, a começar pelo fato de que a morte é definitiva, vai acontecer. Isso é “diferente de antecipar a morte de forma negativa”, afirmou. É “considerá-la um fato natural da vida”.

O segundo aspecto é o de que a morte é inevitável e não se sabe quando acontecerá. “Há muitas formas de treinar nossa mente para aceitá-la como parte da realidade, o que vai reduzir os sentimentos temerosos”, disse. Como terceiro aspecto, a monja lembrou a importância de refletir, na hora da morte, sobre o que é, de fato, importante: “Nossa vida futura vai ser determinada pelo que plantamos nesse momento.”

“Existem inúmeras formas de renascimento, humano, animal e outros. Algumas mais abençoadas e outras mais sofredoras. Como não queremos sofrer, e sim ser felizes, devemos criar condições para assegurar que nossas vidas futuras sejam felizes e plenas”, disse Robina.

“Para o cristianismo, a vida é curta e traz sofrimento, mas depois há a eternidade”, disse a monja, acrescentando que no budismo a morte é ensinada de forma mais abrangente. Para os cristãos, comparou, o chefe é Deus. Já para o budismo, os chefes somos nós mesmos, regulados pela lei do carma, de causa e efeito. É algo que o Dalai Lama chama de autocriação, e que nada tem a ver como o castigo e a recompensa da vida eterna ensinados pelos cristãos.

 

MEDITAÇÃO PARA REMOVER O MEDO

Os budistas creem na necessidade de investigar de onde a pessoa vem e para onde ela vai após a morte, afirmou Robina.  “Essa nossa parte que entra no útero da mãe nasce, vive e depois deixa o corpo. O que segue para outra vida é a mente, a consciência. Para nós não existem palavras como alma ou espírito.”

Para exemplificar a impermanência, a monja lembrou uma entrevista de sua conterrânea Nicole Kidman sobre o casamento com Tom Cruise. “Vamos ficar juntos até os 80 anos”, afirmou a atriz, que acabou sendo deixada pelo marido. “Uma coisa é valorizar quem está ao seu lado e fazer de tudo para frutificar a relação. Outra é o apego, afirmar algo que ela sabia que poderia não se concretizar.”

A consciência de que a morte é inevitável, e de que não se sabe quando ou como acontecerá, “leva as pessoas a viver com toda a intensidade possível, aproveitando cada segundo”. O budismo pressupõe um profundo entendimento da mente e de seu funcionamento, como fez o Buda, disse Robina. “Pela meditação, ele removeu todo o medo, a raiva e o ego, devolvidos em suas qualidades luminosas.”

Pela lógica budista, se a pessoa olhar para trás, verá que sua consciência já habitou corpos diferentes. “A palavra consciência se refere a pensamentos, emoções, sensações, inteligência, à totalidade de nossa experiência interna.” De acordo com Robina, não é à toa que há abençoados e sofredores. “Sabemos que há algo a fazer para alterar nossa vida futura”, disse, citando: não matar, não mentir ou fazer mal ao outro.

Celina Côrtes é jornalista, escritora e mantém o blog Sair da Inércia. 

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