O QUE VOCÊ PROCURA?

Entendendo as projeções para melhorar as relações

Vamos falar um pouquinho sobre as projeções que fazemos em nossos relacionamentos. Mas, primeiro, o que seria projeção? É um mecanismo de defesa no qual projeto em outra pessoa meus atributos pessoais, pensamentos, emoções, comportamentos ou crenças, tidos como indesejáveis ou inaceitáveis por mim mesmo.

Esses atributos pessoais, projetados no outro, vêm das introjeções que fazemos na vida desde a infância, quando nossos pais ou cuidadores diziam o que deveríamos fazer, como nos comportar e o que era certo ou errado, reprimindo comportamentos indesejados. Depois vem a escola, a adolescência, o pertencimento a grupos, a sociedade, a cultura em que vamos crescendo e introjetando o que esse ambiente em que vivemos espera de nós, construindo nossa base e critério de certo/errado, bom/ruim, aceitável/inaceitável.

Essa dinâmica ocorre até nos tornarmos responsáveis por nossas vidas e começarmos a projetar também, além de só introjetar. Mas o que somos em essência, ou seja, nossos desejos, vontades e sentimentos reais, continuam ali dentro, cada vez mais rejeitados por nós, mais oprimidos e negados. São essas características que podemos projetar no outro.

 

SENTIMENTO DE INCOMPLETUDE

Podemos nos perguntar: “Como saber se estou projetando?”

Convido você a fazer uma pequena observação em sua vida. Observe uma relação em que tenha dificuldade, ou um julgamento que faz de alguém, um incômodo que sente com uma característica ou comportamento de outra pessoa, e faça a si mesmo a seguinte pergunta: “Será que aquilo que tanto me incomoda no outro não é algo que tento reprimir em mim?”. Ou: “Será que aquela característica do outro que me incomoda não é algo que de alguma maneira eu preciso ou quero desenvolver em mim?”

A maioria das projeções que fazemos em nossos relacionamentos amorosos está ligada ao nosso sentimento de incompletude. Infelizmente, são poucos os que chegam à fase adulta com um ego bem trabalhado, que atingiram um estado psíquico não dependente, em que seus medos e demandas advindas das introjeções deixaram de ser o centro da consciência.

A criança que encontramos subsistindo na maioria dos adultos não é a criança inocente, espontânea, que possui um entusiasmo natural pela vida. É aquela dominada pelo drama das introjeções, medos e fantasias. É na ânsia de aniquilar ou fugir dessa criança que buscamos uma das três formas de projeção sobre o outro – que pode ser uma pessoa, um papel social, uma representação psíquica. Essas formas são importantes constituintes de nossos vínculos simbióticos.

 

CAMINHO DE AUTOCONHECIMENTO

A primeira forma de projeção ocorre quando projetamos no outro “a parte que nos falta”, idealizando nossos parceiros, criando um vínculo simbiótico e uma alienação de si mesmo. Quanto mais projeto no outro o que me falta, menos consigo me desenvolver, criando um círculo vicioso e uma sensação cada vez maior de impotência.

A segunda forma ocorre quando a situação psicológica da incompletude é projetada no outro, que, diferentemente do que acontece na primeira forma de projeção, é tido como impotente, incapaz de me satisfazer. Com isso, projetamos nele nossa raiva, frustração e insatisfação na relação.

A terceira forma é uma variação da segunda, pois também projetamos no parceiro a impotência que sentimos frente à nossa incompletude, mas reagimos por meio de defesas, e não de sentimentos. Desprezamos, ignoramos, não permitimos que o outro se aproxime, criamos uma barreira nas nossas relações.

E agora? O que fazer?

É preciso percorrer um caminho de autoconhecimento e mudança. Se fizermos esse exercício de olhar para nossas projeções, como quando fazemos as perguntas acima descritas, poderemos trazê-las à consciência, olhar nossos parceiros como verdadeiramente são, com suas questões reais, livres de nossas projeções. Após identificar as projeções, precisamos trabalhá-las. Um processo terapêutico é indicado para irmos ao encontro da nossa incompletude, olharmos de frente, para aceitar e transmutar e, assim, termos relacionamentos mais reais e saudáveis com os outros e, principalmente, com nós mesmos.

Ana Caroline L. Vitali é psicóloga e terapeuta integrativa.

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