Em 2019, a população do planeta teve um acréscimo de 78 milhões de pessoas, enquanto o número de carros aumentou ainda mais: ruas e estradas receberam 80 milhões de veículos novos. Apoiado em dados como esse e cálculos matemáticos, um grupo de urbanistas e ambientalistas concluiu que os moradores de áreas urbanas devem reduzir substancialmente o uso de carro se quiserem manter as grandes cidades habitáveis no futuro.
Em estudo realizado para a University College of London, esses especialistas criaram um modelo matemático para estudar a mobilidade em centros urbanos. Eles defenderam uma mudança no comportamento coletivo nas cidades, bem como um planejamento urbano que leve em conta uma redução da dependência de carros.
A saída, afirmaram, é criar políticas públicas que promovam deslocamentos mais curtos, caminhadas e ciclismo. Não por acaso, campanhas públicas em favor do uso de bicicletas são cada vez mais comuns em cidades que investem em ciclovias, em especial na Europa.
Publicado recentemente na revista científica Royal Society, o estudo afirma que o transporte público deve ser incentivado também para viagens mais longas e que os carros deveriam ser reservados para situações de emergência ou especiais.
GRANDES CIDADES ADOTAM RODÍZIO DE VEÍCULOS HÁ ANOS
No modelo criado pelo grupo de urbanistas e ambientalistas, os moradores de uma cidade usam carro ou transporte público diariamente. A opção por um ou outro se baseia principalmente no tempo de duração do deslocamento. Os autores testaram várias possibilidades.
Numa situação extrema, em que 50 milhões de pessoas usam 50 milhões de carros particulares diariamente, os trajetos ficam pelo menos 20% mais demorados. Por outro lado, se os moradores intercalam o uso do carro numa semana com o uso de transporte público na semana seguinte, o tempo de deslocamento cai até 25%.
O rodízio de carros já é uma prática comum em grandes cidades. No Brasil, apenas São Paulo adotou a prática. Desde 1997, a circulação de veículos na capital paulista é regulada pelo final da placa. Pequim adotou uma medida semelhante a partir das Olimpíadas de 2008, com o objetivo de reduzir a poluição atmosférica.
Outras cidades que implementaram rodízio de veículos são Atenas (desde 1979), Bogotá e Medellin (1998), Cidade do México (1989), La Paz (2003), Quito (2010) e San José (2005).
COMÉRCIO E SERVIÇOS QUE NÃO EXIJAM GRANDES DESLOCAMENTOS
Os estudiosos da University College of London levaram em conta a suposição de que melhores transportes públicos são capazes de levar as pessoas a deixar de usar o carro. Mas concluíram que, mesmo sem melhoras na infraestrutura, é possível reduzir o tempo de deslocamento reduzindo o número de pessoas que podem usar o carro de cada vez.
O estudo lembra que o século 20 foi marcado pelo rápido crescimento das populações urbanas, por infraestruturas voltadas para o carro e pelo aumento do tamanho das áreas urbanas, fatores que levaram a um aumento do tempo de deslocamento nas cidades e a um aumento do custo do transporte público. O carro se tornou a opção preferida, mas seu uso crescente trouxe consequências negativas, como congestionamentos e poluição do ar.
Para reduzir o uso de carro em cidades, os autores do estudo afirmam que é preciso oferecer não apenas mais e melhores opções de transportes, mas também comércio e serviços locais que não exijam grandes deslocamentos. Sugerem ainda incentivos como calçadas maiores e faixas exclusivas para transportes públicos.
Propõem também maneiras de tornar o uso do carro menos atraente, tais como limites de velocidades mais rígidos, cobrança de pedágio e restrições a estacionamento. E afirmam que informações sobre o custo social das escolhas pode influenciar decisões sobre deslocamento e levar motoristas a alternativas socialmente eficientes.