O foco em dietas com pouca gordura e a falta de diferenciação entre gordura saudável e não-saudável levou a “políticas paradoxais” sobre alimentação, que pouco impactaram para o bem-estar da população mundial. Essa percepção de que toda a gordura não é saudável resultou na diminuição do consumo de gordura na população, mas as epidemias de obesidade e diabetes continuaram a crescer.
Isso quer dizer que consumir uma dieta mediterrânea sem restrição calórica e rica em gorduras vegetais, como azeite ou nozes, não leva a um ganho de peso significativo em comparação com uma dieta com baixo teor de gordura.
Uma gordura saudável
A obesidade é um fator de risco para doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer e distúrbios músculo-esqueléticos. A recomendação padrão para a prevenção e tratamento da obesidade é uma dieta com baixo teor de gordura e aumento da atividade física, e muitas organizações de saúde, incluindo a OMS, recomendam um limite de 30% de gordura para a ingestão total de energia.
No entanto, está comprovado que a dieta mediterrânea, que inclui altos níveis de gorduras vegetal, está ligada à redução da mortalidade, doenças cardiovasculares e câncer. Mas o medo de comer toda a gordura significa que dietas “magras” continuam a ser recomendadas como um meio de perda de peso.
Revisão de políticas alimentares
As diretrizes alimentares devem ser revistas para estabelecer os limites arbitrários atualizados do consumo total de gordura. Advertências e avisos obcecados em contagem de calorias acabam por obliterar alimentos mais saudáveis e com mais gordura, como as já citadas nozes, óleos vegetais ricos em fenólicos, iogurte e até mesmo queijo.
Nós devemos abandonar o mito de que alimentos com baixo teor de gordura e de baixas calorias levam a menos ganho de peso. Essa ilusão leva a políticas paradoxais que se concentram no total de calorias, e não na qualidade da comida, nos menus dos restaurantes; proibir o leite integral, mas permitir o leite sem gordura adoçado com açúcar; obrigar os fabricantes de alimentos, varejistas e restaurantes a remover gorduras saudáveis derivadas de vegetais das refeições e produtos, enquanto são comercializados produtos com baixo teor de gordura e com um valor duvidoso para a saúde; e enganar os consumidores a selecionar alimentos com base no teor total de gordura e calorias, em vez dos efeitos reais na saúde.
O conteúdo de gordura dos alimentos e de dietas não é uma métrica útil para julgar danos ou benefícios a longo prazo. A densidade de energia e o conteúdo calórico total podem ser igualmente enganosos. Em vez disso, as evidências científicas modernas apoiam que se ingiram mais calorias em frutas e nozes, vegetais, feijões, peixe, iogurte, óleos vegetais ricos em fenólicos e grãos integrais minimamente processados do que consumir alimentos altamente processados, ricos em amido, açúcar, sal ou gordura trans.