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O desafio científico de provar a existência de Deus

A pergunta foi feita por ninguém menos que Einstein: “Se existe um Deus que criou todo o universo e todas as leis da física, Deus segue suas próprias leis? Ou pode suplantá-las, como, por exemplo, viajando mais rápido que a velocidade da luz e, assim, ser capaz de estar em dois lugares ao mesmo tempo?”

Misturar ciência a fé pode ser tarefa complicada, mas a professora de ciências planetárias e espaciais Monica Grady parte desse questionamento para analisar se Deus – caso ele exista, ela observa – também está sujeito às leis da física. Em artigo para a BBC, Grady conta que lhe fizeram a pergunta de Einstein quando ela estava em pleno confinamento imposto pela pandemia, e que ficou intrigada.

“Não é de se admirar o momento – eventos trágicos, como pandemias, muitas vezes nos levam a questionar a existência de Deus: se existe um Deus misericordioso, por que uma catástrofe como esta está acontecendo?”, reflete a professora.

Grady prossegue afirmando que, se Deus não fosse capaz de infringir as leis da física, provavelmente não seria tão poderoso quanto se esperaria de um ser supremo. “Mas se fosse capaz, por que não vemos nenhuma evidência de que as leis da física foram infringidas no Universo?”, pergunta.

 

VIOLAÇÃO DAS LEIS DA FÍSICA EM OUTRAS REGIÕES CÓSMICAS

A análise continua com especulações científicas sobre a possibilidade de viajar mais rápido que a luz, sobre a expansão do universo e sobre a argumentação de alguns estudiosos de que as leis da física poderiam ser violadas em outras regiões cósmicas, o que leva ao conceito de multiverso.

“Muitos cosmologistas acreditam que o universo pode ser parte de um cosmos mais extenso, um multiverso, onde muitos universos diferentes coexistem, mas não interagem”, afirma a cientista.

Mas como Deus se encaixa no multiverso? “Uma dor de cabeça para os cosmologistas”, diz ela, é o fato de nosso universo parecer bem sintonizado para a existência da vida. “As partículas fundamentais criadas pelo Big Bang tinham as propriedades certas para permitir a formação de hidrogênio e deutério – substâncias que produziram as primeiras estrelas”, argumenta.

Grady pergunta ainda: Como é possível que todas as leis da física e parâmetros do universo tenham os valores que permitem que estrelas, planetas e, por fim, a vida se desenvolvam? “Alguns argumentam que é apenas uma feliz coincidência”, responde ela própria. “Outros dizem que não deveríamos nos surpreender ao ver leis físicas “bioamigáveis” – afinal elas nos produziram, então o que mais poderíamos ver?”. Mas alguns teístas, observa, argumentam que isso indica a existência de um Deus criando condições favoráveis.

Para ela, porém, Deus não é uma explicação científica válida. A teoria do multiverso, sim, resolveria o mistério por permitir que universos distintos tenham leis físicas diferentes. “Portanto, não é surpreendente que nos vejamos em um dos poucos universos que podem sustentar vida”, prossegue, para em seguida admitir: “Claro, você não pode refutar a ideia de que um Deus pode ter criado o multiverso.”

 

‘CIÊNCIA REQUER PROVA, CRENÇA REQUER FÉ’

A análise prossegue com argumentos científicos embasados na física quântica e na ciência espacial. No fim das contas, Grady conclui que para quem acredita em Deus, a ideia de Ele ser limitado pelas leis da física é absurda, porque Ele pode tudo, inclusive viajar mais rápido que a luz. Para quem não crê em Deus, diz ela, a questão também é absurda porque não existe um Deus e nada pode viajar mais rápido que a luz.

Ciência e religião são coisas diferentes, pondera. “A ciência requer prova, a crença religiosa requer fé. Os cientistas não tentam provar ou refutar a existência de Deus porque sabem que não existe um experimento que possa detectar Deus. E se você acredita em Deus, não importa o que os cientistas descubram sobre o Universo – qualquer cosmos pode ser considerado consistente com Deus.”

“Nossa visão de Deus, da física ou de qualquer outra coisa, em última análise, depende da perspectiva”, conclui Grady. Ela escolhe uma citação do livro O senhor da foice, do escritor britânico Terry Pratchett, para encerrar sua análise: “A luz pensa que viaja mais rápido do que qualquer coisa, mas está errada. Não importa o quão rápido a luz viaje, ela descobre que a escuridão sempre chegou primeiro, e está esperando por ela.”

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