Defensores do uso de energia limpa e ilimitada, sem emissão de carbono, comemoraram recentemente o início da montagem do Reator Termonuclear Experimental Internacional (Iter, na sigla em inglês). Trata-se do primeiro reator de fusão nuclear do mundo, desenvolvido em Saint-Paul-lez-Durance, no Sul da França.
O projeto é fruto de uma colaboração entre cientistas, engenheiros e políticos de 35 países, entre os quais China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Rússia e Estados Unidos. Sua instalação, avaliada em R$ 121 bilhões, deverá ser o protótipo de uma fusão nuclear comercialmente viável, bem como de uma geração de reatores sucessores com capacidade muito maior. Com isso, espera-se que a era dos combustíveis fósseis chegue ao fim e o planeta seja salvo das mais graves mudanças climáticas.
Concluída a etapa de montagem, a instalação poderá começar a gerar um “plasma” superaquecido para a produção de energia. “Permitir o uso exclusivo de energia limpa será um milagre para o nosso planeta”, afirmou o acadêmico francês Bernard Bigot, diretor-geral do Iter.
REPRODUÇÃO DE PROCESSO QUE OCORRE NO SOL
Enquanto na fissão nuclear a energia é gerada pela divisão de átomos, na fusão nuclear ela é gerada a partir da união de átomos. É o que acontece no Sol. A cada segundo, dentro do Sol, bilhões de toneladas de átomos de hidrogênio colidem entre si sob temperaturas e pressão extremas, o que os força a quebrar ligações químicas e se fundir, formando um elemento mais pesado, o hélio.
A possibilidade de reproduzir o poder do Sol para gerar energia limpa em abundância motivou as nações integrantes do projeto a deixar de lado as diferenças e unir forças para compartilhar segredos e habilidades de engenharia, em prol do planeta. Há quem considere a fusão nuclear o projeto mais ambicioso do mundo, por seu objetivo de recriar as complexas reações de calor solar e produzir energia elétrica ilimitada, sem emissão de carbono.
A atual energia nuclear depende da fissão, em que um elemento químico pesado é dividido para produzir elementos mais leves. Já a fusão nuclear combina dois elementos leves para criar outro mais pesado, o que libera grandes quantidades de energia com muito pouca radioatividade. A ideia é aquecer um tipo de gás hidrogênio a uma temperatura acima de 100 milhões de graus, até que ele forme uma frágil nuvem, chamada de plasma, para então controlá-la com ímãs poderosos, permitindo a fusão dos átomos e a geração de energia.
CRÍTICOS DEFENDEM ENERGIAS SOLAR E EÓLICA
O objetivo do projeto é demonstrar a viabilidade comercial da fusão nuclear. “O Iter é claramente um ato de confiança no futuro”, disse o presidente da França, Emmanuel Macron.
O executivo-chefe da Autoridade de Energia Atômica do Reino Unido, Ian Chapman, manifestou à BBC sua empolgação: “Acreditamos que a fusão pode mudar o mundo, fazendo uma enorme diferença no modo de gerar energia limpa para as gerações futuras. Todos sabemos que precisamos do Iter para ter sucesso.”
Um projeto dessa magnitude não poderia deixar de criar polêmica. Para os críticos, a queda no preço de energias renováveis, como solar e eólica, viabiliza um método de lidar com as mudanças climáticas mais econômico do que a fusão nuclear. E no tempo certo, já que o aquecimento global é um problema para ontem.