De acordo com uma visão popular, a criatividade é um produto do hemisfério direito do cérebro, associado à intuição. Mas esse não é um consenso entre neurocientistas. Na verdade, tem sido muito debatido se uma habilidade tão complexa quanto a criatividade depende apenas de um hemisfério cerebral. Onde se concentraria essa habilidade?
Para tentar resolver essa questão, um grupo de pesquisadores analisou a atividade cerebral de músicos de jazz durante uma jam session. O estudo mostrou que a criatividade é, de fato, impulsionada principalmente pelo hemisfério direito em músicos relativamente inexperientes. No entanto, músicos com grande experiência em improvisação dependem principalmente do hemisfério esquerdo.
Isso sugere que a criatividade é uma “habilidade do hemisfério direito do cérebro” quando uma pessoa lida com uma situação desconhecida. Mas, quando a criatividade se baseia em rotinas já aprendidas, o hemisfério esquerdo desempenha a maior parte da atividade.
Mudança de paradigma
Ao considerar como a atividade cerebral muda com a experiência, esta pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento de novos métodos para treinar as pessoas a serem criativas. Por exemplo, quando uma pessoa é especialista, seu desempenho é produzido principalmente por processos automáticos relativamente inconscientes, difíceis de alterar conscientemente, mas fáceis de serem interrompidos.
Por outro lado, as performances dos novatos tendem a estar sob controle deliberado e consciente. Assim, eles são mais capazes de fazer ajustes de acordo com as instruções dadas por um professor ou treinador.
Gravações da atividade cerebral podem revelar o ponto em que um artista está pronto para liberar algum controle consciente ou confiar em rotinas inconscientes e bem aprendidas. Liberar o controle consciente prematuramente pode fazer com que a pessoa aprenda maus hábitos e perca a habilidade técnica.
Os pesquisadores compararam os eletroencefalogramas registrados durante performances classificadas como criativas, com os eletroencefalogramas gravados durante performances classificadas como menos criativas. Houve maior atividade nas áreas posteriores do hemisfério esquerdo do cérebro para as performances melhor classificadas; para performances com classificações mais baixas, houve maior atividade nas áreas do hemisfério direito, principalmente frontal.
Afinal: o que é criatividade?
Redefinir a forma como enxergamos a criatividade é fundamental para compreender mais profundamente essa questão. Curiosamente, a criatividade não é um conceito fechado.
Se a criatividade é definida em termos da qualidade de um produto artístico, o hemisfério esquerdo desempenha um papel fundamental. No entanto, se a criatividade é entendida como a capacidade de uma pessoa para lidar com situações novas e desconhecidas, como é o caso de improvisadores iniciantes, o hemisfério direito desempenha o papel principal.