“Permissão para ser humano.” Desde que ouvi esta frase em um workshop do professor Tal Ben-Shahar, ícone da Psicologia Positiva, tenho procurado me permitir ser cada vez mais autêntica e humana.
Para uma pessoa que tem um elevado grau de auto-cobrança, relaxar e permitir-se sentir é um desafio e tanto, mas um alívio saber que sim, é permitido ser quem eu sou, retirando, aos poucos, as máscaras que me tornaram quem eu não sou.
Assim como eu, ao longo dos anos as pessoas vão colecionando máscaras, pois aprenderam que mostrar seu lado sombrio, dói. A sombra, segundo o Psicólogo Carl G. Jung, é o “não eu”, ou seja, tudo o que negamos em nós ou no outro, ou que não queremos aceitar em nós. É fonte de tudo o que há de pior (e de melhor) nas pessoas e em suas relações, representando tudo aquilo que não gostaríamos de ser, ou aquilo que aprendemos que não é bom mostrar ao mundo.
Em alguns momentos, nossa sombra parece até exercer uma personalidade autônoma, oposta ao que somos em nosso dia a dia. Ela aparece na infância, quando começamos a aprender o que é bom e o que é ruim.
E para não mostrar este nosso lado, o “não eu”, tentamos nos encaixar em padrões ditados pela mídia, pela sociedade ou por quem fala mais alto. Lutamos para manter uma distância segura dos outros, para que não consigam enxergar nosso verdadeiro eu.
Nunca foi tão urgente trazer o tema autenticidade à tona. Numa época em que as pessoas alimentam seus egos por meio de likes onde tudo parece perfeito, a autenticidade se destaca como um grande diferencial na caminhada do auto-conhecimento.
Trabalho com o Desenvolvimento humano, e sempre ouvi, mesmo que indiretamente, que é feio mostrar quem eu sou de verdade. O Profissional que trabalha nesta área (coaches, terapeutas, psicólogos, etc) tem uma necessidade absurda de mostrar-se perfeito aos olhos dos outros, principalmente aos olhos dos seus colegas. Mas não está tudo bem o tempo todo.
Temos nossas questões, assim como todo mundo. E de repente, quando está tudo bem, a vida nos apronta uma grande armadilha, como se estivesse nos desafiando: “e aí? Acha que agora vai conseguir?”
O choro calado, as incontáveis noites sem dormir, a preocupação em performar da melhor forma, o cuidado com as críticas, os inúmeros fracassos que sentimos pela simples frase proferida, muitas vezes por nós mesmos: “você trabalha com isso, não devia agir assim” carregam em si uma necessidade latente de sermos cada vez mais autênticos.
Nutricionista não pode ser gordo, Personal Trainner tem que ter tanquinho, professor não pode gritar em sala de aula, advogado não pode levar multa e Psicólogo não pode surtar.
Tanta exigência faz com que venham à tona nossos maiores medos: de sermos julgados, de fracassarmos, de passarmos vergonha e até de termos sucesso. E quem está pronto para encarar tudo isso e ser saco de pancada de algum “hater”?
Pouquíssimos profissionais. Mesmo os que se mostram autênticos no início, acabam sofrendo as consequências com o bombardeio de críticas e aprendem a se calar, a ir mais devagar.
Em alguns momentos, principalmente em nossas casas ou com nossas famílias, não conseguimos esconder. E dependendo da forma como lidamos com nossa vulnerabilidade, criamos conflitos desnecessários somente para que o outro não nos enxergue.
E assim somos. Buscamos padrões que funcionam bem, que muitas vezes são vistos com total estranhamento pelos que não enxergam coerência entre o pensar, sentir e agir.
E na busca por tais padrões, nos comparamos. E com a comparação vem a culpa, a vergonha, a cultura da escassez e de que sempre falta algo para nos completar. Começamos a dar uma série de desculpas que mascaram ainda mais nosso verdadeiro eu, escondido, muitas vezes, de nós mesmos.
A busca pela perfeição cria um exército de pessoas que querem mais, nunca estão satisfeitas e são frustradas pelas coisas não saírem como gostariam. A perfeição é coisa do ego. Podemos dar o nosso melhor para sermos melhores, mas não perfeitos.
Não há evolução sem erros, por isso precisamos da vulnerabilidade para nos enxergarmos internamente, cientes de que tanto a vitória como o fracasso são necessários para nossa evolução.
Muitas pessoas confundem autenticidade com falar a verdade o tempo todo, ou fazer o que bem entendem. Aquela frase: “sou assim, falo mesmo e não vou mudar”, é típica daquele que tem algo a esconder, algo que está tão enraizado, que vem acompanhado de uma dor tão profunda, que muitas vezes está escondida embaixo de inúmeras máscaras.
Autenticidade deve vir com uma dose de respeito e bom senso. E é benéfica desde que eu não invada, exponha ou crie conflitos com os outros.
Novamente no campo profissional, todos nós que trabalhamos com o Desenvolvimento Humano devemos ter ouvido, em algum momento da vida, a máxima: “você precisa SER o conhecimento”. Acreditar nela só faz aumentar a cobrança interna de que não podemos, em hipótese alguma errar, tirando-nos o direito de sermos humanos.
Comecei meu processo de “desmascaratização” (inventei agora este nome, se não gostar, pode chamar do nome que mais lhe agradar) quando decidi fazer meu primeiro vídeo para o meu canal do Youtube, quando ainda trabalhava sozinha.
Foi um processo lindo de autodescoberta e até de admiração pela minha própria coragem.
Depois que fiz o primeiro vídeo, quando fui desafiada pela minha amiga Beatriz, expert em comunicação, começou uma avalanche de inspiração que me impulsionou ao video seguinte, e assim foi. Ouvi muitas críticas: a iluminação não é profissional, você tem vícios de linguagem, esta linguagem está muito informal, você não está bem maquiada…suas sardas aparecem, seu cabelo está com um corte estranho, etc, etc, etc.
E na mesma época, trabalhei em mim um conceito que me pareceu bem bacana: “feito é melhor que perfeito”. E posso dizer que foi muito libertador. Em um número maior, as pessoas vinham elogiar os videos que eu fazia. Às vezes tinha pouquíssimas visualizações, e confesso que eu não ligava pra isso. Percebi que o vínculo que eu criava com o cliente era bem mais forte quando acompanhado de uma pitada de autenticidade.
E pensar que eu fiquei bastante tempo quebrando a cabeça para mostrar o que eu não era ao invés de mostrar tudo o que eu já era…
Ainda tenho uma longa caminhada e algumas camadas de máscaras para tirar, mas a experiência de me permitir sentir e compartilhar o que sinto e o que sou está valendo muito a pena
No final, percebemos que nunca estaremos completos enquanto não olharmos para este lado e não mostrarmos ao mundo que sim, somos imperfeitos (ufa!)