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Assexuais em busca de expressão e representatividade

Eles tendem a ser mal compreendidos em suas comunidades. São ainda pouco conhecidos até mesmo dentro do movimento LGBTQIA+, no qual correspondem à letra A. E são chamados de pessoas com “orientação invisível”. Mas começam a buscar mais representatividade como pessoas que não sentem atração sexual. Estamos falando dos assexuais, que na linguagem internacional também se autodenominam aces.

Com o objetivo de intensificar o ativismo assexual, foi criado o Dia Internacional da Assexualidade, 6 de abril. A primeira comemoração ocorreu este ano, marcada pela transmissão ao vivo de uma conversa intermediada pela modelo britânica Yasmin Benoit. Participaram representantes de Bélgica, Brasil, Nepal, Nigéria, Paquistão e Vietnã.

Visibilidade foi uma questão-chave na discussão comemorativa, contou a BBC em artigo, observando que as experiências narradas pelos participantes variaram de demonstrações de apoio ao completo perigo de se identificar como assexual.

Entre as interpretações equivocadas sobre a assexualidade está pensar que se trata de celibato ou de uma escolha, explicou Michael Doré, do grupo Asexual Visibility and Education Network (Aven). Ou ainda achar que os assexuais nunca sentiram atração sexual ou nunca fizeram sexo.

No espectro da assexualidade, há quem se identifique como demissexual, ou seja, uma pessoa que não sente atração sexual enquanto não forma um vínculo emocional com alguém. Mas a categoria não inclui os arromânticos, aqueles não sentem atração romântica. Estes já estariam em outra classificação.

 

ADVOGADO BRASILEIRO SE DECLAROU ASSEXUAL

O Dia Internacional da Assexualidade é uma iniciativa do Aven, fundado em 2001 pelo ativista David Jay e hoje um dos grupos de assexuais mais conhecidos no mundo, com mais de 135 mil membros. Seus objetivos são construir uma comunidade e legitimar a assexualidade como orientação sexual.

A data comemorativa, a formação de grupos organizados e uma maior participação em paradas de orgulho gay são exemplos de tentativas dos assexuais de sair da obscuridade. A internet tem sido uma ferramenta poderosa para isso. Yasmin Benoit tem uma legião de fãs em canais de rede social. Já a americana Marisa Manuel, de 28 anos, criou no Instagram o AceChat, uma conta na qual divulga histórias de pessoas que se identificam da mesma forma que ela.

Na literatura, destacam-se autores como Darcie Little Badger, Akemi Dawn Bowman e Maia Kobabe. E há até um personagem de animação com o qual os aces se identificam: Todd Chavez, da série Bojack Horseman, exibida na Netflix.

No Brasil, o advogado Walter Masteralo, de 34 anos, ganhou certa notoriedade recentemente ao declarar sua assexualidade ao G1. Há 17 anos sem fazer sexo, ele contou que chegou a ter experiências com meninas e meninos mas percebeu que não sentia atração sexual. Aos 23 anos, entendeu que era assexual.

“É muito comum na área de saúde as pessoas assexuais serem classificadas como doentes ainda hoje”, disse Masteralo. Ele questionou: “Eu só vou ser uma pessoa completa se estiver amando outra pessoa? Eu tenho o direito de ser quem eu sou.”

 

CONHECIMENTO DE ORIENTAÇÃO POR MEIO DO FACEBOOK

No México, Anahí Charles, de 34 anos, contou que começou a perceber que era diferente durante o ensino médio. Todas as suas colegas se derretiam pelos rapazes da banda Backstreet Boys, mas ela não se se identificava com aquilo.

Passaram-se anos até que Anahí conseguisse compreender sua orientação. Ela chegou a fazer exames médicos e testes de hormônio para descobrir que era uma pessoa saudável. Até que encontrou informações sobre assexualidade no Facebook e entendeu o que sentia. Acabou administrando um grupo de assexuais na mesma rede social.

Marisa Manuel tem planos para expandir o alcance do AceChat, que por enquanto conta com cerca de cem pessoas. Gente de Canadá, França, Reino Unido, Rússia e Vietnã já entrou em contato, disse ela, mas a língua tem sido um obstáculo que exige a presença de tradutores.

Em Moscou, Daniel, de 20 anos, disse que tem procurado traduzir histórias do inglês para o russo. Num país conhecido pela intolerância às comunidades LGBTQIA+, ele tem o cuidado de esconder seu sobrenome, por preocupações com segurança.  “Poucas pessoas conhecem termos como ‘assexual’”, afirmou.

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